Dois são os elementos capazes de provocar dor em minha alma: os fatos e os sujeitos. Não sou inocente ao ponto de achar que eles existem por si só e que não participo de sua realização - no sentido de tornar real. Viver é escolher o sentido.

Entretanto, às vezes, acontece de a eles corresponder os males da nostalgia e da desilusão - dos quais também participo. Porém, não sei negar passado nem existência. Não sei fingir e não sei matar. Sou avesso à reintepretação contemporânea e me causa pavor a indiferença. Enfim, não faço muito por me ajudar, eu sei.

A solução que achei passa pelo esvaziamento espontâneo do conteúdo. Não quero alterar os contornos, quero deixar os quadros na chuva para que lhes escorram as cores. E depois quero esquecer a própria chuva.

Não quero desfazer-me das fotografias, mas lhes encontrar um porta-retrato e um lugar na estante onde possam ficar belamente amareladas e cobertas de poeira.

Assim quer o tempo e me exige a vida. Não sou mais capaz de lhes resistir.

As dores da alma
surgem de fatos e sujeitos
Eu, como sou nostálgico
e não gosto de homicídios,
suicídios.
Dou a cada coisa o seu lugar
e apago os conteúdos...

Dizem por aí que, para se suprimir a dor de uma alma, ou se olvidam os fatos ou se eliminam os sujeitos. Eu, como sou assim nostálgico, assim contra homicídios e suicídios, faco como dá, deixo onde está e tento aprender a esvaziar os conteúdos

Plágio II

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do país da piada-pronta!
Liguei a televisão hoje e assisti perplexo à propaganda de um supermercado que anunciava, em plena quarta-feira da carne, a promoção do "músculo trasseiro bovino"
Atucanaram a bunda da vaca!
Rarará!
Hoje, só amanhã. Vou pingar meu colírio alucinógeno.


(ninguém entendeu nada, né?!)

"Você escolheu sofrer", soprou a voz ao meu ouvido. Fiquei estático por não saber de onde ela vinha.

Inimigo

eu sou aquele que procura as penas
e as usa para se achar sofredor
que as pinta com a tinta do lirismo dourado,
imitando um mérito,
e as pendura no peito e se diz forte

eu tiro forças de onde não as tenho e não o sei
por ter uma curiosa vontade de
querer continuar para poder cair,
mas raros são os momentos que me movo
por querer sentir meus próprios pés

e eu, que tanto pavor sempre tive da dor
talvez devesse agora aprender:
o pior não é acontecer
mas se acostumar

eu sou aquele que procura as penas
o que tem uma curiosa vontade de
escrever com lástimas seus personagens
o que se sabe sem se evitar

eu quis da vida
e ela quis de mim
mais do que agora tenho
e menos do que em breve
é disto que me sinto teimoso
e me sei vivendo
eu quero da vida
e ela quer de mim

quero inventar uma dimensão
onde possa usar as palavras bonitas
quero aspirar o perfume do céu
e sentir o sol tocar de luz a minha estrada
por ansiar brincar com o vento o meu cabelo

quero ser como as crianças, obrigadas a inventar vida
quero me saber hoje e amanhã
e dar ao passado o que lhe pertence
quero me devolver
quero viver mais do que vinte e um anos

procuro de novo as coisas boas
para lhes perguntar onde estiveram
almejo coisas que me são difíceis
e por isso mais as quero
que ao final serei quem eu houver querido

e a vida, modesta
a vida só me quer testar
mal sabe ela de mim!
vereis!

Eu quis da vida
e ela quis de mim
tomou cousas que me eram caras
um amor
algumas alegrias
a saúde
e uns prazeres

Me sinto teimoso
me sei vivendo
travo uma batalha
entre um Eu e um Sonho
e embora eu concedesse escolher por mim
pouco consigo fazer a respeito
sentir não é pensar

Exposição

Como todo bom virginiano, eu sou um preciosista: são as pequenas coisas da vida que me atraem, os detalhes, os fatos que nem todo mundo nota.

Ao longo de dois anos venho colecionando fotos publicadas na internet. Mas não quaisquer. São imagens especiais, que me fizeram refletir, me emocionaram, me surpreenderam, que contam histórias...

Compartilho, agora, a melhor parte da minha coleção com os Senhores.

Citei, na medida do possível, a fonte das fotos. Qualquer problema é só entrar em contato comigo que eu retiro ou dou créditos.

1

(23/11/2004)

Esta é a única foto que não foi retirada da internet. Trata-se do registro da criatividade dos alunos da arquitetura após o incêndio que destruiu parte do antigo prédio. Foto por Leonardo O. V., meu irmão.




2

(19/12/2004)

Explosão em Fallujah, Iraque. A representação gráfica da perversidade Americana. Folha de São Paulo.




3

(02/10/2005)

Nagasaki. Antes e depois da Bomba Atômica.




4

(06/10/2005)

Vitral visto de dentro da Catedral de Notre Dame, Paris.




5

(18/11/2005)

Um lindo casal. Orkut.




6

(29/11/2005)

Natal na Praça Vermelha, Moscou, Rússia. Folha de São Paulo.
(Foi esta foto que me inspirou a colecionar)




7

(19/12/2005)

D. E., filho de D. Wiley, algum desconhecido de cuja página pessoal eu retirei a foto (que ele nunca descubra!).




8

(14/1/2006)

Dois gatinhos de um álbum do Orkut.




9

(11/02/2006)

Bailarinas. Não me recordo a origem da foto.




10

(12/03/2006)

Coreanos em bolhas de ar. Folha de São Paulo.




11

(28/03/2006)

Sem mais informações. Orkut.




12

(22/07/2006)

Casal. Fotolog.




13

(08/08/2006)

Felino com olhos diferentes. Orkut




14

(03/09/2006)

Dançarinas representam a deusa Shiva. Tenho esta apresentação em vídeo e posso dizer que é a coisa mais incrível e linda que já vi. Folha de São Paulo.




15

(09/09/2006)

2ª Corrida de Balões do Grande Reno, Nevada, EUA. Folha de São Paulo.




16

(18/10/2006)

Madonna estampando a lateral de um Hotel em Hollywood. Uol Notícias.




17

(21/10/2006)

Festival das luzes em Diwali, índia. Celebrações do novo ano Hindu. Uol Notícias.




18

(24/10/2006)

Menino ganancioso que ficou preso em máquina ao tentar pegar brinquedos pela abertura superior. Terra Notícias Populares.




19

(25/10/2006)

Ensaio da ópera Turandor, de Giacomo Puccini, na Viena Volsksoper, em Viena (Áustria). Folha de São Paulo.




20

(01/11/2006)

Menina em Bangalore, índia. Celebrações do Eid al Fitr, que marca o fim do Ramadã (mês sagrado para islamismo). Folha de São Paulo.

ah se eu pudesse pintar o mundo com todas as cores que eu vejo agora
que tão mais bonito ele seria
estariam todas elas sempre aí, fazendo graça da minha incapacidade?
ou é de ti que elas escorem?
que meu mundo é mais colorido por causa tua
ou que meus olhos enxergam mais e melhor
porque o mundo depois de ti tem mais cores
e é mais expressivo e mais bonito
e tem textura, e tem talento
que o mundo onde tu existes é mais compreensível
menos abstrato, por incrível que pareça
sinto mais nu o mundo
ou já que não gostas que fale dos teus méritos
tu me dás a paleta
onde estão as cores
com que pinto o meu mundo
é tu que dá os contornos e preenche as formas
e as minhas formas
é contigo que quero enfeitar minha casa
minha sala de jantar e meu quarto
é contigo que quero uma arte
é contigo que quero enfeitar minha casa
meu corpo e minha casa
meu corpo, minha casa